Este é, tecnicamente, meu primeiro artigo de Riftbound. Sim, produzi textos comentando sobre o lançamento problemático, mas esses visam abranger o escopo maior dos card games e de como o jogo da Riot se posiciona perante o mercado e quais erros precisam ser endereçados e quais vantagens ele oferece — é um papel de comentarista e analista que exerço tanto aqui quanto nos vídeos no canal do YouTube da Cards Realm — mas este é o primeiro artigo que visa trazer algo específico para a comunidade.
Para fins práticos, permita-me uma breve introdução do meu histórico: jogo card games desde 2006, comecei com Yu-Gi-Oh! durante a famosa febre da animação na época, migrei para Magic: The Gathering em 2008, de onde não saí, mas joguei outros card games neste período, especialmente Flesh and Blood e Legends of Runeterra.
Entre 2017 e 2020, fui um dos organizadores do Pauper Masters, um evento do formato Pauper de Magic no Rio de Janeiro, e produzo conteúdo para a Cards Realm desde 2020, onde comecei abordando Pauper e atualmente abordo quase todos os formatos e assuntos do card game da Wizards of the Coast, sendo também o apresentador do nosso canal do YouTube e do nosso podcast, onde hoje defendo que card games têm o papel de catalizadores sociais em uma sociedade cada vez mais distanciada por conta das comodidades da era digital.
Minha experiência prática com Riftbound começou agora, em novembro. No momento da escrita deste artigo, foram dois release events, um Learn to Play, três Nexus Nights e uma dúzia de partidas extraoficiais em loja para testar decks e compreender mecânicas — meu objetivo com a comunidade é trazer o mesmo tipo de trabalho que faço com Magic: The Gathering, com guias de decks, opiniões, análises de Metagame, reviews de expansões, entre outros.
Apesar de todas as críticas feitas referentes à baixa disponibilidade do produto e, principalmente, a como o lançamento de Riftbound foi abarrotado de controvérsias no Brasil, não posso negar que todos os elementos do jogo me fascinam: a qualidade do material é boa, as mecânicas são divertidas, o “conserto” do sistema de mana torna a gameplay menos frustrante, e há muito espaço para criatividade no TCG: um terreno fértil e divertido para qualquer amante de card games.
Neste artigo, entretanto, quero abordar algo que não está no momento nas regras oficiais do jogo: como mencionado acima, meu histórico com card games passa pelo formato Pauper de Magic: The Gathering, e durante muitos anos, busquei promover o formato no Rio de Janeiro sediando eventos com premiações para unir a comunidade em torno do objetivo de jogar um formato divertido, acessível e, na época, muito diverso.
Agora, dadas as circunstâncias que estou vendo principalmente no meu país em relação aos custos de entrada de Riftbound, parece ser o momento de tentar fazer o mesmo para o jogo com o Riftpobre.
O que é Riftpobre?
Riftpobre é um formato alternativo de Riftbound feito pensando no jogo em loja, visando tornar o card game de League of Legends mais atrativo para jogadores que não estão dispostos a pagar custos muito altos pelos seus decks e criar uma porta de entrada acessível para o público fã de League of Legends e/ou que nunca teve contato com card games antes.
Ele segue todos os conceitos e regras do formato padrão de Riftbound, incluindo a possibilidade de partidas em Melhor de Um e Melhor de Três, e atende às modalidades Single player e multiplayer.
A concepção inicial do formato pressupõe as seguintes condições e diferenças em comparação com o Standard:


- Cards do deck principal e do sideboard devem ser compostos exclusivamente de tiragem comum e incomum. Manter as incomuns garante um bom balanceamento de nível de poder e jogos mais empolgantes. Além disso, enquanto não existem reprints hoje, é possível que cards tenham, em algum momento, downshifts de raro para incomum/comum conforme o power creep se estabelece ao longo dos anos — neste caso, estes serão válidos em Riftpobre.

- Battlefields devem ter tiragem comum ou incomum. Hoje, não existem Battlefields raros ou épicos, mas é possível que isso mude no futuro, e se um Battlefield de raridade mais alta tiver um nível de poder acima da média de incomuns para um deck específico, o formato sofreria com problemas de balanceamento.


- Lenda e Champion Units são os únicos cards raros permitidos. Campeões épicos não são permitidos. Não existem nenhum dos dois em raridade comum ou incomum, e limitar os Champions a raros significa reduzir consideravelmente o custo de investimento para muitos arquétipos, além de balancear o Metagame visto que algumas dessas unidades são notoriamente melhores — vale lembrar: toda Lenda possui um Champion Unit rara própria.
- Só é permitida uma cópia de Campeão em cada lista, que deve ser a Chosen Champion Unit. Cópias extras não são permitidas dentro do deck principal e nem no Sideboard. Essa regra garante que nenhum deck se destoe demais porque seu Campeão raro é muito mais forte que os demais, além de criar um senso de consequência e preciosidade maior em utilizar sua Champion Unit, dado que este pode ser uma ferramenta essencial para ganhar jogos.
E quais são os Prós e Contras?
Prós
Contras
Por que Precisamos do Riftpobre?
Podemos dividir esta pergunta em duas respostas: custos e construção de comunidades. Ambos costumam andar em sentidos opostos para países com moedas desvalorizadas.
O Custo
Há de convir: neste momento, Riftbound é muito caro para o consumidor médio. A baixa linha de produção do lançamento de Origins somada à alta expectativa do público de card games pelo “TCG físico de League of Legends” foi a mistura perfeita para uma dúzia de controvérsias que, no fim, culminam para o mesmo caminho — alta demanda, pouca oferta.
Enquanto a corrida pelas staples continua incessante, as engrenagens do competitivo estão girando o mais rápido possível: torneios grandes já acontecem no ocidente, a temporada de Skirmish já está marcada e já existem até datas para Torneios Regionais. Riftbound veio para ficar, o mercado está quente e, consequentemente, os preços das singles estão nas alturas.
Tome, por exemplo, um deck do atual Tier 0 do formato: Kai’Sa, Daughter of the Void. Em média, ele custa cerca de US$ 730, o equivalente a mais de R$ 4.000 se contarmos todas as taxas e impostos de IOF, que influenciam diretamente no valor de mercado das singles em países como o Brasil, onde a média do arquétipo gira em torno dos mencionados R$ 4.000 até R$ 5.000 — para fins de comparação, o valor médio de um deck competitivo de Standard, principal formato de Magic: The Gathering, flutua hoje em torno de R$ 2.000 e R$ 3.500.
O custo de investimento faz diferença na hora de considerar se vale a pena entrar em um card game, mas outros fatores como o potencial da marca League of Legends, gameplay e qualidade do material também entram na equação.
Não podemos fingir que a lógica do ao invés — qual motivo me faria escolher este jogo novo com este custo ao invés daqueles que já estou acostumado ou que já estão bem estabelecidos no mercado? — não faz diferença, e principalmente para países com moedas mais desvalorizadas como o Brasil, onde o salário mínimo hoje é de R$ 1.518, enquanto uma booster box de Origins possui preço médio de R$ 1.500.
Ainda assim, card games dão um jeito de existir no país, e somos o maior público consumidor de TCGs na América Latina. Por trás deste, há um fator importantíssimo na equação: brasileiro é criativo em como aproveitar jogos, e formatos como Pauper de Magic: The Gathering são incrivelmente populares aqui por adaptarem uma mescla de compreensão do custo médio de vida do mercado nacional, construção de comunidades ao longo da última década, e uma aceitação natural dos jogadores por ambientes mais financeiramente confortáveis.
É em busca deste mesmo ambiente para Riftbound que se estabelecem os critérios para um ambiente alternativo em torno de comuns e incomuns, que batizamos de Riftpobre.
Construção de Comunidades
Tal qual Magic: The Gathering possui o Pauper e Flesh and Blood sancionou recentemente o Silver Age, a criação de um formato alternativo — e acessível — para Riftbound é uma necessidade para o crescimento do jogo, especialmente na América Latina.
Como explicado acima, por conta da alta demanda e baixa oferta, o custo de um deck de Riftbound hoje é notoriamente alto, especialmente entre os cards épicos e algumas staples raras como Thousand-Tailed Watcher, que, somado às controvérsias envolvendo Proving Grounds, colocaram uma barreira de entrada alta e de pouco encorajamento para algumas regiões, em especial entre os jogadores novos e àqueles que não sonham necessariamente com o ápice do competitivo.
Enquanto a fama e a glória dos Regionais e Campeonatos Mundiais compõem uma parcela relevante do público, o verdadeiro potencial de card games está no jogo em loja. São nelas que o mercado se movimenta na compra de singles e booster packs, e também onde a maioria do público menos competitivo se concentra — àqueles que se interessarão tanto nos cenários de multiplayer quanto em jogos 1v1 e também é o ambiente de entrada onde o público menos focado nos TCGs e, talvez, mais voltado para League of Legends, terá suas primeiras experiências com Riftbound.
Nas lojas, é necessário criar ambientes convidativos, com opções de produtos e também de modalidades que façam com que as pessoas não se sintam “tão para trás” por não investirem centenas ou milhares de dólares em pedaços de papelão para ter uma experiência equilibrada e competitiva nos seus Nexus Nights — é para este público que o Riftpobre existe.
É para eles que criar um cenário mais sustentável em fins financeiros que facilita o convite se torna essencial, e para as lojas, é importante terem mais jogadores dispostos a jogar os torneios em suas mesas, enquanto também é relevante para a saúde geral de Riftbound que mais pessoas se interessem em adentrar no jogo, e que o “investimento inicial necessário” seja baixo.
Não se pode garantir “baixo investimento” para o Standard hoje, e pode levar bastante tempo até isso ser uma possibilidade — se um dia for —, portanto a elaboração deste formato visa criar a porta de entrada para Riftbound, e se após experimentarem a versão “budget” do jogo o público se interessar, eles podem correr atrás das staples para jogar o ápice do competitivo, se assim desejarem.
Decklists de Riftpobre
Abaixo estão algumas decklists iniciais para cada um dos campeões disponíveis no set Origins. Campeões e cards de Proving Grounds foram deixados de fora por conta da baixa disponibilidade do produto hoje, mas cards como Flash, Vanguard Assistant e Firestorm são opções viáveis.
Além disso, listas estão sem Sideboards pois requerem um estabelecimento mais amplo de Metagame, que, devido à natureza do formato, pode demorar mais tempo para se formar.
Ahri, Nine-Tailed Fox

Ahri funciona basicamente como um Control, utilizando da unidade campeã para acelerar o clock enquanto utiliza de En Garde, Stupefy e Discipline para dominar o showdown. Singularity é um card muito eficiente no formato, e Ahri é uma das melhores campeãs para capitalizar em cima da versatilidade da mágica.
Darius, Hand of Noxus

Darius é um Aggro clássico: jogue unidades, lide com a mesa do oponente usando interação barata e domine o jogo com a habilidade de Legion, que reduz custos e garante bônus quando jogamos dois cards no mesmo turno.
Jinx, Loose Cannon

Com a ausência de bons payoffs para descarte, seguimos uma rota full Aggro com Jinx. O objetivo é usar a mecânica de descarte para burlar alguns custos e esvaziar a mão o mais rápido possível para transformar a Lenda em uma fonte recorrente de vantagem em cartas, enquanto mantemos um clock agressivo durante toda a partida.
Kai’sa, Daughter of the Void

Se você joga Magic, Kai'sa está em algum lugar entre ser o Delver ou o Jund do Riftbound. Ela é essencialmente um deck versátil que mescla ameaças eficazes com algumas das melhores combinações de remoções e interação do jogo hoje para ganhar a partida. Mantenha os campos de batalha controlados e avance suas unidades e você terá provavelmente a vitória.
Lee Sin, Blind Monk

Sem acesso às raras, Lee Sin é um deck um pouco estranho, mas o foco permanece em utilizar os Buffs como recursos para ter a maior pressão na partida, enquanto cards como Charm e Defy ajudam a controlar o ritmo do oponente.
Leona, Radiant Dawn

Leona se beneficia da mecânica de Stun para reforçar suas unidades, então queremos ser agressivos enquanto utilizamos cards em volta dessa habilidade para dominar o jogo. Assim como Lee Sin, Leona se beneficia de Charm e Defy para responder ao oponente.
Miss Fortune, Bounty Hunter

Miss Fortune garante Ganking para uma unidade por turno e favorece unidades grandes capazes de dominar um campo de batalha com facilidade, transformando-a em um arquétipo de Ramp. Curiosamente, os cards de Body comuns e incomuns que demandam custo de Poder não fazem o suficiente para justificar adicionar runas, então nossos custos são todos pagos com Chaos Runes. No entanto, também não temos tantos payoffs para Ramp nessa combinação de cores hoje.
Sett, The Boss

Sett utiliza Buffs para "invalidar" as trocas que o oponente faz, tornando-o um bom competidor contra arquétipos com remoções enquanto também se beneficia de cards versáteis como Hidden Blade. Pode-se ir mais longe no subtema de sacrificar unidades, mas apostar no go wide parece uma boa proposta inicial.
Teemo, Swift Scout

Teemo joga em torno de esconder cartas nos campos de batalha e interagir com o oponente de maneiras inesperadas. A redução do escopo de cards disponíveis prejudica parcialmente a execução da sua estratégia, mas ainda pode-se fazer um arquétipo bem sólido com alguns dos cards disponíveis na sua combinação de runas.
Viktor, Herald of the Arcane

Viktor acaba sendo um deck de "Hidden" mais eficiente que Teemo no formato por conta da unidade campeã que se importa com mágicas jogadas no turno do oponente, somado com um plano de late-game que se beneficia de Hidden Blade como fonte de vantagem em cartas. Potencialmente o melhor deck do formato hoje, se construído e pilotado da maneira certa.
Volibear, Relentless Storm

Volibear tende a ser um Ramp mais eficiente no Riftpobre porque possui Blazing Scorcher como mais um dragão para interagir com Herald of Scales enquanto sua combinação de Runas também garante mais consistência em interagir com a mesa de ter outras unidades mais agressivas.
Yasuo, Unforgiven

Yasuo é outro deck estranho sem as raras e épicas, sendo um pouco dependente demais da unidade campeã e de cards como Wielder of Water para estabelecer a vantagem na partida, então focamos o arquétipo em tentar encontrar os cards-chave mais rápido e preparar o terreno para dominar campos de batalha repetidas vezes, enquanto Cemetery Attendant possibilita reutilizar os cards mais importantes se forem destruídos.
Concluindo
Isso é tudo por hoje!
Em caso de dúvidas, fique à vontade para deixar um comentário!
Obrigado pela leitura!












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